Fenômeno. É o mínimo que se pode dizer de “Maria Fumaça”, da Banda Black Rio, gravado em 1977. A banda era formada por craques em seus instrumentos, e seu groove colocava o funk e o soul à serviço da música brasileira. Banda Black Rio era subversão total, sete músicos, niguém cantava, lançou o primeiro disco pela Warner, todo instrumental, vendeu como pipoca, a faixa título virou abertura de novela global, se tornou pop em grandes centros urbanos, nos subúrbios e na zona sul carioca. A banda gravitava em torno do saxofonista Oberdan Magalhães, do trompetista Barrosinho e do guitarrista Cláudio Stevenson. O baterista Luis Carlos e o trombonista Lucio também permaneceram por longo tempo na formação. O baixista Jamil Joanes e o pianista Cristóvão Bastos ocupavam os postos que tiveram maior rotatividade na estória da banda. O álbum abre com o carro-chefe, a faixa título, um sambão funk cheio de swing e groove. A guitarra de Cláudio nos coloca diante de um arranjo de “Na baixa do Sapateiro” cheio de malevolência e balanço com os metais tocando um pouco atrazados durante o refrão. São as manhas sutis de arranjadores do porte de Oberdan e Barrosinho. “Mr. Funky Samba”, de Jamil Joanes, de groove disco, foi muito utilizada nas pistas de dança da época. “Caminho da Roça”, de Oberdan e Barrosinho, expõe de forma límpida o timbre especial dos metais da Black Rio, na época, objeto de desejo dos produtores fonográficos de muitas estrelas e astros da MPB. Em “Baião” e “Urubú Malandro” o clima é de gafieira fusion. “Maria Fumaça” traz música para os pés e para o cérebro, resiste ao baile e à análise, chacoalha a mulata e aguça a mente.