A primeira e única vez em que vi Casé foi em 1978, em uma cantina italiana em Petrópolis, que funcionava em cima de um posto de gasolina. Isto foi em Março ou Abril. Ele havia sido convidado, junto com outros músicos de sampa, para tocar por algumas semanas, pelos donos do local, dois irmãos, italianos, músicos, que na década de 50 trabalharam em várias orquestras de São Paulo. Um deles, o saxofonista tenor Nino, havia sido colega de estante de Casé juntamente com Hector Costita. Casé chegou acompanhado do contrabaixista Bandeira e do pianista Dias. Eu, um adolescente de 16 anos na época, lembro-me como se fosse hoje do encanto que foi ver aqueles dois saxofones tocando melodias que já conhecia por intermédio de meu pai, desnecessário dizer que naquela época eu era um inveterado roqueiro. Esta experiência mudou radicalmente os rumos de minha vida. Casé ficaria 1 mes por lá se apresentando nos fins de semana. No próximo sábado lá estava eu subindo a serra para nova audição. Lá chegando vi Dias ao piano, Bandeira em seu suntuoso baixo acústico, Nino solando ao tenor, Rafael, seu irmão a bateria, mas nada daquele músico franzino, calado, que 1 semana antes havia me transformado ao solar Stardust, Body and Soul, All of Me, e várias outras canções que já tinha ouvido, invariavelmente em arranjos bregas, tipo Georges Mellachrino ou Clebanoff. Perguntei a Nino onde estava aquele outro saxofonista e ouvi a resposta taxativa: “O Casé não esquenta lugar, voltou para São Paulo”. Meses depois, soube pelo mesmo Nino, que Casé havia sido encontrado morto no quarto do hotel em que vivia na Boca do Lixo, em sampa. Mais alguns meses e eu compraria, feliz, em uma loja de discos no centro da cidade este Lp, “Casé In Memoriam”. Eu ainda nem fazia idéia que este Lp era um relançamento do célebre “Coffe And Jazz” do “Brazilian Jazz Quartet”, uma das mais antológicas gravações de jazz realizada no Brasil. Foi gravado em 1958 pela Columbia, com Casé acompanhado pelo pianista Moacyr Peixoto – um dos irmãos do Cauby, e pelos futuros integrantes do Zimbo Trio: o contrabaixista Luis Chaves e o baterista Rubens Barsoti. Eu também não fazia a mínima idéia que aquele saxofonista alto, que havia me encantado e mudado meus paradigmas musicais meses atras, tocava em um estilo muito parecido com Lee Konitz.
Eu também não sabia que levaria 31 anos até que eu pudesse conhecer a história da vida daquele músico especial, algo que só ocorreu graças ao magnífico empreendimento do jornalista Fernando Lichti Barros, que em um incasável trabalho reuniu em um blog um ensaio biográfico de Casé. Recomendo a todos que se interessam pela memória dos músicos brasileiros que visitem em http://saxofonistacase.blogspot.com/ . Eu também não sabia que lamentaria tanto, só te-lo visto, escutado e conhecido aos 45 do segundo tempo de sua brilhante carreira como músico. Hoje completamos 31 anos de saudade deste magnífico músico. Obrigado Casé, por ter mudado minha vida!