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Arquivo mensal: novembro 2009

Casé – In Memoriam (1979) – Brazilian Jazz Quartet – Coffe And Jazz (1958)


A primeira e única vez em que vi Casé foi em 1978, em uma cantina italiana em Petrópolis, que funcionava em cima de um posto de gasolina. Isto foi em Março ou Abril. Ele havia sido convidado, junto com outros músicos de sampa, para tocar por algumas semanas, pelos donos do local, dois irmãos, italianos, músicos, que na década de 50 trabalharam em várias orquestras de São Paulo. Um deles, o saxofonista tenor Nino, havia sido colega de estante de Casé juntamente com Hector Costita. Casé chegou acompanhado do contrabaixista Bandeira e do pianista Dias. Eu, um adolescente de 16 anos na época, lembro-me como se fosse hoje do encanto que foi ver aqueles dois saxofones tocando melodias que já conhecia por intermédio de meu pai, desnecessário dizer que naquela época eu era um inveterado roqueiro. Esta experiência mudou radicalmente os rumos de minha vida. Casé ficaria 1 mes por lá se apresentando nos fins de semana. No próximo sábado lá estava eu subindo a serra para nova audição. Lá chegando vi Dias ao piano, Bandeira em seu suntuoso baixo acústico, Nino solando ao tenor, Rafael, seu irmão a bateria, mas nada daquele músico franzino, calado, que 1 semana antes havia me transformado ao solar Stardust, Body and Soul, All of Me, e várias outras canções que já tinha ouvido, invariavelmente em arranjos bregas, tipo Georges Mellachrino ou Clebanoff. Perguntei a Nino onde estava aquele outro saxofonista e ouvi a resposta taxativa: “O Casé não esquenta lugar, voltou para São Paulo”. Meses depois, soube pelo mesmo Nino, que Casé havia sido encontrado morto no quarto do hotel em que vivia na Boca do Lixo, em sampa. Mais alguns meses e eu compraria, feliz, em uma loja de discos no centro da cidade este Lp, “Casé In Memoriam”. Eu ainda nem fazia idéia que este Lp era um relançamento do célebre “Coffe And Jazz” do “Brazilian Jazz Quartet”, uma das mais antológicas gravações de jazz realizada no Brasil. Foi gravado em 1958 pela Columbia, com Casé acompanhado pelo pianista Moacyr Peixoto – um dos irmãos do Cauby, e pelos futuros integrantes do Zimbo Trio: o contrabaixista Luis Chaves e o baterista Rubens Barsoti. Eu também não fazia a mínima idéia que aquele saxofonista alto, que havia me encantado e mudado meus paradigmas musicais meses atras, tocava em um estilo muito parecido com Lee Konitz.
Eu também não sabia que levaria 31 anos até que eu pudesse conhecer a história da vida daquele músico especial, algo que só ocorreu graças ao magnífico empreendimento do jornalista Fernando Lichti Barros, que em um incasável trabalho reuniu em um blog um ensaio biográfico de Casé. Recomendo a todos que se interessam pela memória dos músicos brasileiros que visitem em http://saxofonistacase.blogspot.com/ . Eu também não sabia que lamentaria tanto, só te-lo visto, escutado e conhecido aos 45 do segundo tempo de sua brilhante carreira como músico. Hoje completamos 31 anos de saudade deste magnífico músico. Obrigado Casé, por ter mudado minha vida!

Casé (Jose Ferreira Godinho Filho) – sax alto; Moacyr Peixoto – piano; Rubens Barsotti (Rubinho) – bateria; Luiz Chaves – contrabaixo
1- The Lonesome Road
2- When Your Love has Gone
3- Cop-out
4- Black Satin
5- Making Whoopee
6- No Moon at All
7- Old Devil Moon
8- Don’t Get Around Much Any More
9- You’d Be So Nice to Come Home To
10- I’ll Close my Eyes
11- Alone
12- Too Marvelous for Words
 

Horace Silver – Silver’n Brass (1975)

Como pedido de amigo é ordem, faremos nosso amigo Carlos Braga, do fenomenal blog dedicado ao jazz latino “CB Latin Jazz Corner” – cujo link está ali ao lado na lista de blogs preferidos – matar a vontade de ouvir um de seus temas prediletos, “Barbara”, na interpretação do compositor, o imensurável Horace Silver. “Silver’n Brass” é o primeiro álbum do pianista/compositor em formato de medium band, orquestra esta que trazia seu habitual quinteto aumentado para média formação. O quinteto de Silver dos anos 70 revelou ao mundo do jazz alguns grandes solistas como o trompetista Tom Harrell, e o exímeo e saudoso saxofonista Bob Berg. Os arranjos foram feitos por Silver com o auxílio de Wade Marcus, que escreveu as partes para os metais. Nomes de peso compunham esta banda como os trompetistas Oscar Brashear e Bobby Bryant, o trombonista Frank Rosolino e os saxofonistas Jerome Richardson e Buddy Collette. “Silver’n Brass” foi o primeiro de uma série de álbuns nos quais Horace experimentou escrever para sonoridades diversas, completada com os antológicos “Silver ‘N Woods (Blue Note BN-LA 581-G)”, também de 1975; “Silver ‘N Voices (Blue Note BN-LA 708-G)”, de 1976; “Silver ‘N Percussion (Blue Note BN-LA 853-H)”, de 1977; e “Silver ‘N Strings Play The Music Of Spheres (Blue Note LWB 1033)”, de 1978.
Música de altíssimo nível em uma atmosfera não comum a este mestre do hardbop e do piano-funky-style.
Tom Harrell (tp) Bob Berg (ts) Horace Silver (p) Ron Carter (b) Al Foster (d) Oscar Brashear, Bobby Bryant (tp, flh) Vince DeRosa (frh) Frank Rosolino (tb) Maurice Spears (btb) Jerome Richardson (as, ss, fl) Buddy Collette (as, fl) Wade Marcus (arr)
A&R Studios, NYC & Wally Heider Sound Studio III, Los Angeles, CA, January 10, 1975
*Bob Cranshaw (el-b) Bernard Purdie (d) replaces Carter, Foster
A&R Studios, NYC & Wally Heider Sound Studio III, Los Angeles, CA, January 17, 1975
1- Kissin’ Cousins*
2- Barbara
3- Dameron’s dance
4- The Sophisticated Hippie*
5- Adjustment
6- Mysticism
 

Tadd Dameron – John Coltrane – Mating Call (1956)

Em “Mating Call” encontramos a reunião de dois gigantes do jazz. Tadd Dameron, um dos mais refinados compositores do gênero e igualmente especial ao piano, e John Coltrane, que dispensa adjetivos e apresentações. Tadd é pouco referenciado como pianista, mas seu estilo econômico e inovador, numa espécie de mistura de Count Basie e Thelonious Monk, complementa com adequação única o estilo prolixo do fraseado de Coltrane. Hardbop, blues e baladas são a tônica do repertório apresentado nesta sessão gravada em novembro de 1956 nos estúdios de Rudy Van Gelder. Coltrane passava por seus mais altos momentos no quinteto de Miles Davis, tendo, somente quatro dias antes, concluído as antológicas sessões de Miles para a Prestige que resultaram nos clássicos “Cookin”, Relaxin”, Steamin” e “Workin”. “Mating Call” é oportunidade rara de apreciar o trabalho de Tadd Dameron como solista ao piano e acompnhante de hardbop, num encontro que permanece ao mesmo nível de sua associação com Fats Navarro. Enquanto ouço esta esplendorosa gravação uma certeza me vem a mente: Não haverá no planeta alguem que tenha escutado mais e melhor jazz do que o engenheiro Rudy van Gelder.
John Coltrane (ts) Tadd Dameron (p) John Simmons (b) Philly Joe Jones (d)
Rudy Van Gelder Studio, Hackensack, NJ, November 30, 1956
1- Mating Call
2- Gnid
3- Soultrane
4- On A Misty Night
5- Romas
6- Super Jet

 

 
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Publicado por em 28 de novembro de 2009 em john coltrane, John Simmons, philly joe jones, Tadd Dameron

 

Horace Silver And The Jazz Messengers (1954-55)

Como dito no post do quarteto de Hank Mobley, ao final de 1954 o pianista Horace Silver era contratado para se apresentar regularmente no club Minton’s Playhouse, berço do bebop nos anos quarenta, na 52nd street, NYC. Tendo iniciado sua carreira discográfica no combo de Stan Getz em dezembro de 1950 e permanecido acompanhando “The Sound” por todo o ano seguinte, em 1952 Horace iniciou sua longa associação com a Blue Note no quarteto do saxofonista Lou Donaldson. No mes de outubro do mesmo ano, o jovem de apenas 24 anos, já produzia 2 sessões de gravação como líder de um trio que contava com o experiente baterista Art Blakey. Em janeiro de 53 se apresenta com o quinteto de Lester Young no Birdland, grava com o grupo de Sonny Stitt em março, participa do sexteto de Howard McGhee em uma nova gravação para a Blue Note em maio, grava com o quinteto de Al Cohn para a Savoy em junho, volta a se apresentar com “Pres” no Birdland em julho, e termina o ano com mais uma gravação em trio com Art Blakey em novembro. O jovem inicia 1954 com seu nome já consolidado na competitiva cena musical de NYC. Uma gravação para a Prestige com o quinteto do trompetista Art Farmer em janeiro antecede a histórica gravaçaõ com o quinteto de Art Blakey no Birdland em fevereiro, ao lado de Clifford Brown, Lou Donaldson e Curley Russell. Em março, é o escolhido para duas sessões da Blue Note integrando o quarteto de Miles Davis, que deram origem ao álbum “Blue Haze”. Mais uma gravação com Art Blakey para a EmArcy no final de março, e em abril duas novas datas agora com o quinteto e sexteto de Miles Davis, que deram origem ao clássico álbum da Prestige, “Walkin'”. Em 30 de abril, para a Savoy, participa do quinteto de Phil Urso-Bob Brookmeyer, em maio é a vez do quinteto de Art Farmer-Gigi Gryce para a Prestige, Clark Terry o convoca em junho, ainda no mesmo mes Art Farmer o reconvoca, e Milt Jackson também. Antes que junho termine, Miles Davis torna a usar de seus serviços na gravação para a Prestige do também clássico “Miles Davis And The Modern Jazz Giants”. Depois desta maratona vem a gig acima mencionada no Minton’s, até que em 14 de novembro, a Blue Note o convoca para que organize um quinteto e grave a primeira, de duas sessões, que formariam seu primeiro álbum como líder de um combo, os Jazz Messengers, que faria história pelos próximos 45 anos, sob a liderança de Art Blakey. O nome, tirado de uma antiga banda liderada por Art em finais da década de 40, tinha agora a conotação de uma cooperativa musical levada a cabo por Silver, Blakey, o experiente trompetista Kenny Dorham, o contrabaixista Doug Watkins, parceiro de Silver no quarteto do Minton’s, assim como o jovem saxofonista Hank Mobley. Silver protagoniza a função de diretor musical do grupo, compondo 7dos 8 temas gravados nas duas datas q formaram o repertório do álbum, a exceção é “Hankerin'”, de Mobley. Do disco fazem parte duas composições que virariam verdadeiros cavalos de batalha durante toda a carreira de Silver: “Doodlin'” e “The Preacher”. O desempenho de músicos deste porte dispensa comentários, a qualidade das composições, ídem. São peças clássicas no repertório do jazz moderno e o engatinhar de um novo estilo que dominaria o restante da década de 50 e boa parte da seguinte. Horace completou no último 2 de setembro, 81 anos de idade, e está ativo e muito bem, obrigado!
Kenny Dorham (tp) Hank Mobley (ts) Horace Silver (p) Doug Watkins (b) Art Blakey (d)
Rudy Van Gelder Studio, Hackensack, NJ, November 13, 1954
*Rudy Van Gelder Studio, Hackensack, NJ, February 6, 1955
1- Room 608 (H. Silver)
2- Creepin’ In (H. Silver)
3- Stop Time (H. Silver)
4- To Whom It May Concern (H. Silver)*
5- Hippy (H. Silver)*
6- The Preacher (H. Silver)*
7- Hankerin’ (H. Mobley)*
8- Doodlin’ (H. Silver)
 
 

Don Sebesky – Full Cycle (1984)

O arranjador, trombonista, pianista e band-leader Don Sebesky é um sujeito que suscita polêmicas. Alguns o adoram como grande arranjador que é, outros tantos, e não são poucos, colocam sobre seus ombros o crédito de ser o responsável pela pasteurização da música de vários excelentes jazzmen, como Wes Montgomery, George Benson, Freddie Hubbard e etc. Mas o que nenhum dos grupos de opiniões podem negar é a excelência e a competência musical deste jovem, prestes a completar 72 anos em 10 de dezembro. Don nasceu em Perth Amboy, New Jersey, estudou trombone na Manhattan School Of Music, e ainda bem jovem já atuava ao lado de Kai Winding, Claude Thornhill, Tommy Dorsey, Maynard Ferguson e Stan Kenton. A partir dos anos 60, começa a se dedicar ao ofício de arranjador, e atinge o ápice do sucesso em 65 ao assinar os arranjos do álbum “Bumpin'” de Wes Montgomery. Apoiado pelo produtor Creed Taylor, inicialmente no selo Verve e posteriormente no CTI, Don Sebesky produziu arranjos que contribuiram para uma maior popularização do jazz junto a ouvintes não iniciados. Neste ofício, Don produziu arranjos tipo glacê para massas sonoras um tanto insoças mas também pode caprichar em sua pena partituras de alto nível para excelentes álbuns como “First Light” de Freddie Hubbard. “Full Cycle” foi gravado em 1984 por um selo um tanto obscuro, porém com repertório de primeira linha com 6 temas saídos de nomes como: John Coltrane, John Lewis, Freddie Hubbard, Bill Evans, Miles Davis e Bud Powell. Don atua não só como arranjador mas também ao piano Fender Rohdes, o que confere a música uma certa atmosfera setentista. Os músicos participantes são todos de primeiríssima linha como: Jon Faddis, Lew Soloff, Eddie Daniels, Alex Foster, Jim Pugh, Alan Ralph, entre outros. O ouvinte poderá além de curtir uma grande música, matar as saudades dos estalos de um legítimo Lp, de onde foram ripadas as seis faixas. De resto, é diminuir as luzes, servir um martini seco ou outro drink de sua preferência, e viajar nas bem estruturadas partituras de Mr. Don Sebesky. Vida longa ao mestre!
Don Sebesky (Arr, p); Eddie Daniels, Alex Foster, Roger Rosenberg (Reeds); Jon Faddis, *Lew Soloff, ** Jim Bossy (tp); *Jim Pugh, Ed Byrne, Alan Ralph (tb); Kenneth Sebesky (g), Jay Leonhart (b), Jimmy Madison (d), Sue Evans (perc)
* Tracks 1, 2 & 6; ** Tracks 3, 4 & 5
1- Naima (J. Coltrane)
2- Django (J. Lewis)
3- Intrepid Fox (F. Hubbard)
4- Waltz for Debbie (B. Evans)
5- All Blues (M. Davis)
6- Un Poco Loco (B. Powell)
 

Hank Mobley Quartet (1955)

Este álbum foi um ponto de partida, é aqui que começa a carreira discográfica de Hank Mobley como líder. Neste março de 1955 o saxofonista contava com 24 anos de idade e já a 5 chamava atenção sobre si, com seu timbre redondo, cheio, e sua habilidade, incomum, de produzir belos e instigantes temas. Muito já havia percorrido desde o nascimento em 7 de julho de 1930, na cidade de Eastman na Georgia. Era filho, neto e sobrinho de músicos, todos atuantes na igreja protestante, sua avó era a organista, sua mãe pianista, e foi no piano que o menino se iniciou no mundo da música. Foi seduzido pelo saxofone já tarde, aos 16 anos, de forma auto-didata, e é incrível pensar que somente 4 anos após, o menino já tinha lugar numa das melhores banda de blues do pedaço, a Paul Gayten’s Blues Band, recomendado por ninguém menos do que Clifford Brown. Lá ele dividia espaço com nomes do porte de Cecil Payne e os futuros Ellingtonianos Clark Terry, Aaron Bell e Sam Woodyard. Segundo declarou o próprio Gayten, “Hank era uma beleza, tocava sax barítono, tenor e alto, e produzia muitos arranjos. Ele dava conta do recado e eu podia deixar as coisas com ele”. Por duas semanas, em 1953, substituiu Jimmy Hamilton na orchestra de Ellington mesmo sem tocar clarinete, ele transpunha as partes para o sax tenor. Ainda em 53 Max Roach o levou para a California junto com Clifford Brown, mas as coisas não deram muito certo por lá, teria sido o embrião do quinteto Roach-Brown. De volta a NYC trabalhou em clubs tocando ao lado de Miles Davis, Tadd Dameron, Milt Jackson e J. J. Johnson, até que em 54 foi convidado por Dizzy Gillespie para integrar seu combo. Em setembro daquele ano deixa Gillespie e passa a fazer parte do quarteto de Horace Silver, locado regularmente no famoso berço bop, o Minton’s Playhouse. É aí, exatamente aí, que Mobley começa a fazer história no jazz. Foi trabalhando com Silver que ele pode fazer parte do que viria a ser os Jazz Messengers, combo famoso pela liderança de Blakey, mas que na verdade começou como uma cooperativa entre 5 músicos: Horace Silver, Art Blakey, Kenny Dorham, Doug Watkins e nosso garoto Mobley. Gravou em 54 e 55 o álbum Horace Silver Jazz Messengers, e logo depois veio o contrato com o selo da notinha azul, uma longa associação, que perdurou até 1970. Este quarteto, não por acaso, nada mais é do que os Messengers à exceção de Kenny Dorham, que não participa da sessão. O repertório original de 6 temas, foi todo composto pelo jovem Mobley, exceto “Love For Sale”, de Cole Porter. Não discorrerei sobre a música gravada, ela fala por si mesmo. Não vou chamar a atenção sobre a qualidade das composições, ela é evidente. Não repetirei ad nauseum o belo timbre do saxofone nem a lógica e poesia da construção das frases musicais, são óbvias. O resto da história deste fantástico músico? Outros posts se sucederão em avalanche, dando conta de toda a obra deste saxofonista e compositor ímpar, com certeza, o mais “underrated” de todos os gigantes do jazz.
Hank Mobley (ts); Horace Silver (p); Doug Watkins (b); Art Blakey (d)
Recorded at Hackensack, N.J., March 27, 1955
1- Hank’s Prank (Mobley)
2- My Sin (Mobley)
3- Avila And Tequila (Mobley)
4- Walkin’ The Fence (Mobley)
5- Love For Sale (C.Porter)
6- Just Coolin’ (Mobley)
7- Hank’s Prank (Alternate take)(Mobley)
8- Walkin’ The Fence (Alternate take)(Mobley)
 
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Publicado por em 22 de novembro de 2009 em art blakey, doug watkins, hank mobley, horace silver

 

Sean Jones – Roots (2006)

O trompetista Sean Jones faz parte da nova geração de jazzistas, é mais um dos “Young Lions” do século XXI ao lado de outros como Russell Gunn, Marcus Printup e Bert Joris. “Roots”, lançado em 2006, é como o título indica, uma revisitação as influências musicais do trompetista. Nelas estão contidas a música gospel das igrejas protestantes, r&b, blues e jazz. O clima solene das igrejas é o início de tudo, a faixa de abertura, “Children’s Hymn”, funciona como um prelúdio a esta viagem sonora e desemboca na belíssima faixa-título, onde Sean Jones mostra seus talentos de instrumentista e compositor brilhantemente secundado por seu quinteto com Tia Fuller no saxofone soprano, Orrin Evans ao piano, Obed Calvaire na bateria e Luques Curtis no contrabaixo. “Divine Inspiration” é uma lírica balada com especial atuação de Orrin Evans no Fender Rhodes e do baixista Luques Curtis. “God’s Gift” reforça, pela beleza melódica, a profunda influência dos temas religiosos na música de Jones, seu timbre é vigoroso como o de um Lee Morgan ou Donald Byrd, mas existem nuances de expressividade que nos remetem a um Kenny Dorham ou Booker Little. Sean Jones é, com certeza, um instrumentista de amplos recursos técnicos e expressivos, e foge da tão forte influência de Miles Davis que se verificou sobre os jovens trompetistas na década de oitenta e noventa. A prova final, o gabarito, para todo músico, é abordagem escolhida sobre um standard ou um clássico do repertório jazz. Sean Jones não foge da responsabilidade ao escolher a bela “Come Sunday”, do repertório Ellingtoniano. O jovem músico conduz como um veterano a estética da construção de seu fraseado, conseguindo atingir o paradoxo da intimidade com expressividade. “Lift Every Voice” mantém o clima solene com o quarteto desenvolvendo a dinâmica da interpretação em sentido crescente até o clímax entre o trompete e bateria. “Offering Time” é um interlúdio entre a igreja e a rua, a segunda metade do álbum é menos espírito e mais pé no chão, e o tema é um blues com abordagem bop. “Conversations” tem a participação de Eddie Howard ao piano, e Tia Fuller mostra seu talento de flautista. “El Soul” é uma balada lírica e delicada, Jones atua com uma afinação perfeita e timbre sábiamente dosado. “Puddin’ Time” é um R&B repleto de swing, nos remete às gravações da Blue Note e Prestige dos anos 60. “What We Have” volta ao lado lírico de baladista de Jones, e tem uma atuação inspirada de Tia Fuller no soprano, emulando os melhores dias de Grover Washington. O tema atinge o ápice com o diálogo de Jones e Fuller. Eddie Howard volta a contribuir em “John 316”, uma melodia típicamente gospel, onde ele atua no órgão Hammond. A melodia é o ponto central de todo o álbum, e não é diferente no tema de encerramento, “I Need Thee”. “Roots” inicia, desenvolve-se e encerra como um verdadeiro culto as tradições, as influências, e sobretudo, a honestidade musical deste jovem e brilhante músico.
Sean Jones: trumpet, flugelhorn; Tia Fuller: alto saxophone, flute, soprano saxophone; Orrin Evans: piano, electric piano, keyboard; Eddie Howard: organ, piano; Luques Curtis: acoustic bass; Obed Calvaire, Jerome Jennings: drums.
1- Children’s Hymn
2- Roots
3- Divine Inspiration
4- God’s Gift
5- Come Sunday
6- Lift Every Voice
7- Offering Time
8- Conversations
9- El Soul
10- Puddin’ Time
11- What We Have
12- John 3:16
13- I Need Thee

http://ouo.io/T4PN8ju

 

Hot Beat Jazz

 

Hank Mobley Sextet – Thinking Of Home (1970)

“Thinking Of Home” é um ítem não muito lembrado na ampla discografia do saxofonista Hank Mobley. Gravado em 1970, com Mobley a frente de um sexteto, o álbum traz o que de melhor o saxofonista sabe produzir: hardbop. Considerado um dos fundadores do estilo e classificado por Dexter Gordon como um “campeão dos meio-pesados”, devido a seu timbre não tão agressivo quanto Rollins ou Coltrane nem tão aveludado como Stan Getz, Mobley sempre produziu grandes álbuns em sua longa associação com a Blue Note. “Thinking Of Home” foi seu último trabalho no selo da notinha azul, Mobley praticamente nada produziu em seus últimos 15 anos de vida, razão de uma saúde debilitada por abusos que o levaram a uma pneumonia. O sexteto conta com a brilhante participação do trompetista Woody Shaw, do sempre amigo e parceiro Cedar Walton ao piano, Eddie Diehl na guitarra, Mickey Bass no contrabaixo e Leroy Williams na bateria. O álbum reúne 4 originais de Mobley e uma composição de Mickey Bass, “Gayle’s Groove”. “Thinking Of Home” é a abertura, em estilo “churchy”, de uma suíte em 3 partes que conta com “The Flight”, um bebop acelerado e “Home At Last”, uma bossa-nova. “Justine” é um extenso tema hardbop e veículo ideal para todos os solistas. “You Gotta Hit It” é mais um bebop intenso, com magníficas trocas de compassos entre Mobley, Shaw e Leroy Williams. “Talk About Gittin’ It ” encerra o álbum com delicioso groove soul-jazz. “Thinking Of Home” é um canto do cisne na carreira impecável deste estilista do sax tenor.
Woody Shaw (tp); Hank Mobley (ts); Cedar Walton (p); Eddie Diehl (g); Mickey Bass (b); Leroy Williams (d).
Rudy Van Gelder Studio, Englewood Cliffs, NJ, July 31, 1970
1- Suite: Thinking Of Home / The Flight / Home At Last
2- Justine
3- You Gotta Hit It
4- Gayle’s Groove
5- Talk About Gittin’ It
 

Bob Curnow’s L.A. Big Band – The Music of Pat Metheny & Lyle Mays (1994)

É certo que o Pat Metheny Group tem uma legião de admiradores por todo o mundo, como também é certo que toda moeda tem dois lados, o PMG também é alvo de críticas por parte dos puristas mais xiitas, que insistem em dizer que a música do PMG é previsível e carente de swing. Polêmicas à parte, o trombonista, arranjador e band leader Bob Curnow a frente de sua L.A. Big Band tem se dedicado a transpor para a linguagem de orquestra as admiráveis composições da dupla Pat Metheny – Lyle Mays. Curnow foi integrante da orquestra de um dos maiores arranjadores da história do jazz, Stan Kenton, nos anos 60. Após um breve hiato, voltou a se integrar ao grupo em 1973 assumindo também a responsabilidade de gerenciar o selo de Kenton, a Creative World Records. Produziu como tal mais de 25 gravações, sendo 6 delas com suas composições e arranjos. Seus maiores êxitos neste posto foram as adaptações para a banda de Kenton da música dos grupos “Chicago” e “Blood, Sweat and Tears”. Tornou-se presidente da “International Association of Jazz Educators (IAJE)”, onze anos como diretor do departamento de bandas e estudos de jazz da “California State University” e lecionou na “Michigan State University” e “Case Western Reserve University”. Por oito anos foi diretor da “McDonald’s All-American High School Jazz Band”, onde descobriu e incentivou jovens talentos que mais tarde se tornaram músicos profissionais. Foi a partir de 1982 que Curnow começou a ficar fascinado com a complexidade, inteligência e beleza melódica da musica do Pat Metheny Group. Logo depois começou a transcrever algumas composições, a princípio, por mera curiosidade com relação ao conteúdo musical. Rapidamente percebeu que se tratava de um rico material para sua Big Band, que conta com grandes instrumentistas, como os trompetistas Bob Shew, Buddy Childers, Wayne Bergeron, Don Rader e Ron Stout; dos saxofonistas Bob Sheppard, Danny House e Rob Lockart e mais uma dezena de outros. Este trabalho permanece como um exemplo estelar da arte do arranjo em seu mais alto refinamento. O álbum é o resultado de um sonho de uma década e claramente demonstra que o jazz de Big-bands permanece tão relevante hoje como sempre foi. Quanto aos puristas xiitas, a caravana passa enquanto eles continuam a tecer e escrever suas ladainhas.
Bob Curnow – cond, Arr; Bobby Shew, Buddy Childers, Wayne Bergeron, Don Rader, Ron Stout – trumpet, flg; Alexander Iles, Rick Culver, Chuck Hughes, Andy Martin – trombone; Dana Hughes – bass trombone; Tom Peterson, Bob Sheppard, Rob Lockart, Danny House, Jerry Pinter – reeds; Paul Viapiano – guitar; Bill Cunlife – piano; Tom Warrington – bass; Steve Houghton – drums; Brian Kilgore – percusion
1- (It’s Just) Talk
2- Always and Forever
3- The First Circle
4- Letter from Home
5- Are We There Yet
6- If I Could
7- See the World
8- Minuano (Six eight)
9- Dream of the Return
10- Every Summer Night
11- In Her Family
12- Have You Heard
 
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Publicado por em 10 de novembro de 2009 em Bob Curnow, L.A. Big Band

 

Steve Turre – Rainbow People (2008)

Se o arco-íris do título deste álbum significar diversidade musical, então não haveria melhor utilização do que no caso do trombonista Steve Turre, já que a bagagem musical deste é formado por diversas cores. Turre está igualmente em casa tocando ritmos latinos, blues ou jazz straight-ahead. Seu aprendizado inclui participação no combo de Roland Kirk, no de seu amigo Ray Charles, colaborações com os mestres do latin-jazz Tito Puente e Hilton Ruiz, longas associações com os trompetistas Woody Shaw e Dizzy Gillespie, e também com o pianista McCoy Tyner. Todas estas influências são percebidas em “Rainbow People”.
Parte do sucesso do álbum reside na familiaridade entre os músicos, todos colaboradores entre si já de longa data, com exceção de Sean Jones, o qual Turre convidou após ouvi-lo numa jam session em NYC. Jones participa de três, das nove faixas do álbum, alternando entre timbres quentes e doces, como em “Para El Comandante”, e de sonoridade mais metálica como em “Midnight in Madrid”. O mesmo acontece com o saxofonista Kenny Garrett, que participa em quatro faixas, com um toque forte e uma construção de solos plenos de paciência e imaginação. Em “Segment” de Charlie Parker, Garrett tem uma maravilhosa participação, como era de se esperar.
O blues “Brother Ray” é, provavelmente, um dos melhores tributos já prestados a Ray Charles desde seu falecimento em 2004, evocando sua voz e espírito com perfeição. Turre faz dois magníficos solos, o primeiro com o instrumento aberto e o último utilizando a surdina, sendo este, após um belíssimo solo do contrabaixista Peter Washington. Mulgrew Miller contribui com um acompanhamento que revela o lado gospel/blues de seu estilo.
A seção rítmica de Peter Washington e Ignacio Berroa é responsável pelo intenso swing que permeia toda a música de “Rainbow People”. Eles conduzem a vibração blues de velhos tempos em “Groove Blues”, um blues lânguido, com Garrett, Miller e Turre executando belos solos cada um. Mulgrew Miller está, como sempre, em grande forma, contribuindo com as necessidades da música que apresentam. Ele injeta o espírito de McCoy Tyner , e a influência de Coltrane na música de Turre é reforçada com a inclusão da bela composição de McCoy, “Search for Peace”.
As raízes latinas do trombonista ficam evidentes em “Midnight in Madrid”, com os metais em um estilo ibérico, e na peça de encerramento dedicada ao grande Mario Rivera, “Para El Comandante”, na qual Turre demonstra outra especialidade particular, o toque nas conchas, dando um tempero todo especial a essa saborosa salsa.
“Rainbow People” é um dos mais instigantes álbuns deste mestre do trombone jazz contemporâneo, um ítem imprescindível a qualquer estante dos apreciadores de jazz.
Steve Turre: trombone, shells (9); Kenny Garrett: alto saxophone (1,4,8,9); Sean Jones: trumpet, flugelhorn (2,5,9); Mulgew Miller: piano, keyboards; Peter Washington: bass; Ignacio Berroa: drums; Pedro Martinez: percussion (9).
1- Rainbow People (S. Turre)
2- Forward Vision (S. Turre)
3- Brother Ray (S. Turre)
4- Groove Blues (S. Turre)
5- Mightnight in Madrid (S. Turre)
6- Cleopatra’s Needle (W. Shaw)
7- Search For Peace (M. Tyner)
8- Segment (C. Parker)
9- Para El Comandante (S. Turre)